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Escravos do chicote



Sonhei que Gilberto Gil era ministro, usava dreads e se atrevia a criar novas alternativas pra cultura enquanto gravava simultaneamente um disco na Jamaica. Imagine a cara daquela legião de zumbis congressistas se isso tivesse realmente acontecido. Quantas acusações ele não sofreria. Favoreceu fulano, se autopromoveu, fez isso ou aquilo com o dinheiro público, enfim, encostar no anel do poder é uma tarefa polêmica pra qualquer um. Acordei desse devaneio caça memórias e mais um vez me vi de frente a um país racista que não se resolveu com as marcas da escravidão até hoje. Como capoeirista já cantei muitas canções que narram nossa relação com os antepassados. Em algumas dessas cantigas o tema central era o chicote do feitor e seus significados. Ficava pensando que além de causar marcas, dores ou cicatrizes, o açoite simbolizava uma relação de poder para com o outro. O problema é que aquele que manda, julga e condena acaba se tornando também um “lugar a ser almejado”. Certa vez me perguntei se o escravo queria mesmo a liberdade ou se tivesse chance preferiria possuir o chicote pra escravizar. Quando saímos do lugar do oprimido buscamos justiça ou no fundo queremos nos transformar no opressor? Essa é uma questão chave que diz muito sobre quem somos nós. Estou perto de retornar a Brasília pra um show e acho que por isso essas memórias andam me rondando. Como no filme Planeta dos Macacos ou em discussões que envolvem quem subjuga quem, não podemos nos esquecer de se colocar no lugar do chicoteado. Aprisionar custa caro. Quem prende também está preso, pois vive uma vida preocupado com aquele que pode se soltar.


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